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Eu tenho um Amor escondido

Ele se manifestou na plenitude dos tempos e veio até mim (Jo 1, 12-16). 

Aquele, que na sua luz era inacessível e pelo qual até os serafins não o podiam contemplar por causa da sua fulgurosa glória (Is 6,2), se manifestou a mim, homem pequeno e pecador.

Quando meu antepassado Adão se desviou do caminho e caindo se machucou, ele sentiu compaixão e misericórdia e desceu (Fl 2, 1-10).

Desceu do mais altos céus. Algo nunca visto antes na eternidade aconteceu: Deus se levantou do seu trono de majestade e poder, movido inteiramente de amor e se tornou um de nós (Jo 1,14).

Nasceu em uma gruta, em uma noite fria de Natal (Lc 2,6).

Não fez barulho. Não teve efeitos especiais. Os que viram o extraordinário no céu, silenciaram diante do mistério de um bebê, envolto em faixas, que somente sabia chorar e depender da sua mãe (Lc 2, 15-20).

Sim, aquele bebê é o meu Amado. Ele, que não teve início, entrou na História, e a história, assim como eu, festeja também seu aniversário todos os anos.

Se alegrou com a humanidade 

Ele, que criou todas as coisas, quis experiênciá-las. Criou o doce da uva e o sabor do pão, se alegrou com seus amigos de juventude. Ele se alegrou ainda mais quando aqueles, que eram os simples, o reconheceram como enviado do seu Pai (Mt 11, 25-27)

Chorou quando a morte levou seu amigo (Jo 11,35). Sim, Ele também tinha amigos. Para Ele, a amizade era a maior expressão do amor (Jo 15,13). Ele, Senhor de tudo, quis se tornar amigo dos escravos (Jo 15,15).

Ele se comovia quando encontrava com os estropiados pelo caminho e, em seu coração, sonhava com um homem melhor, com um mundo pautado pelo amor e pela misericórdia, onde os necessitados pudessem encontrar n’Ele a esperança perdida.

No meio dos pecadores

Mesmo quando seus primeiros amigos o deixaram (Jo 6,60), ele não desistiu de acreditar na minha raça. Incansável, caminhou e seus pés cheios de poeira tocaram os batentes das portas daqueles que lhe abriam. Ele entrava, ceava com eles, se alegrava, celebrava…

Foi criticado por isso, porque “Como o SANTO DOS SANTOS se senta com pecadores e come com prostitutas?” (Mt 9, 11). Como o grande EL SHADAI abraça leprosos e chora com as viúvas? (Lc 7, 11-17).

Descendo… descendo… ele chegou aqui… e me encontrou na minha baixeza, no meu inferno.

Com vergonha, repeti o gesto de Adão desejando me esconder da sua sagrada face (Gn 3, 8-9). Então pensei: talvez se as trevas me cobrisse eu me esconderia da sua face.“Mas mesmo a treva não é trevas para ti, tanto a noite como dia iluminam” (Sl 139,12).

A morte do Justo

Eu nasci pecador, como diz Davi (Sl 51,7), e, diferentemente de como muitos possam pensar, eu não sou anjo. Sou humano, sou barro, sou argila que um dia se tornará pó. Mas, Ele sabendo que me perderia, quis também morrer por mim.

Ele que não veio do barro, mas das moradas divinas, gerado e não criado, que na sua substância é igual ao Eterno, subiu na cruz. Ele, que é a benção, se tornou maldição para que toda maldição, para mim, seja nada mais que a sua presença a me defender. É isso mesmo. 

A Tua Graça me sustenta

Sou filho de Abraão, e não existe maldição alguma, uma vez que até a “própria maldição” foi assumida por Ele.

Se eu sofro? E muito! Se choro? Bastante! Se penso em desistir? Todos os dias, assim como Ele. Até nisso somos parecidos… Mas, a sua Graça me sustentará e quando não mais tiver forças, lembrarei do seu rosto, transfigurado no Tabor e na Cruz. 

Recordarei que, na glória, na cruz, na ressurreição ou no túmulo, eu sou d’Ele.

Eu creio que um dia, como verdadeiro amigo e irmão, Ele virá me buscar… Serei Dele para sempre, na plenitude, e Ele será meu e de todos, por toda a eternidade.

JESUS eu te amo, mas nunca meu amor será comparável ao teu… Renunciaste a tudo para me ter, eu não posso te dar nada e mesmo assim encontraste em mim e nos meus irmãos a tua herança e o teu tudo…

Nesta Quaresma*, o que me resta é Te adorar e reconhecer que em Ti toda a minha vida se move, mesmo quando me esqueço… em contrapartida, Tu não me esqueces jamais.

Então, vem aqui, senta comigo nesta mesa, e come… vou lavar Teus pés, vou chorar e dizer que Te amo para sempre!!

Rafael Ferreira de Brito

Foto de Jouwen Wang no Unsplash

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