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Os anjos serafins: adoradores de fogo

“Um dos Serafins voou para junto de mim, trazendo na mão uma brasa que havia tirado do altar com um tenaz e com ela me tocou os lábios…” (Is 6,1-8).

Os mais próximos de Deus

Primeiros e mais próximos do trono de Deus, o primeiro coro da primeira hierarquia celeste são os serafins. Próximos do fogo devorador da presença de Deus, esses nossos irmãos são abrasados pelo fogo glorioso do Todo-Poderoso.

A palavra serafim vem do hebraico Saraf (שרף) que, por sua vez, significa abrasar, queimar. Veja, já aqui podemos aprender com esses nossos irmãos o seguinte: eles, quando adoram a Deus, são invadidos pelo seu Amor que é tão forte que chega a queimar, fazendo a alma do amante arder diante da presença do amado.

Portanto, esses seres espirituais estão profundamente ligados ao Ágape divino, capaz de aquecer qualquer inverno interior.

Três dimensões da adoração dos serafins

Por serem mais próximos do seu Criador, esses possuem a graça de contemplar a glória de Deus sem vê-la.

É possível contemplar a Deus sem vê-Lo? Sim, é possível; mas vamos por partes. Voltemos ao texto do chamado do profeta Isaías e, depois, debrucemos na Tradição da Igreja para entender melhor quem são esses seres maravilhosos e o que eles têm a nos acrescentar.

Primeiramente, o profeta Isaías nos diz que esses seres espirituais possuem seis asas: com duas cobrem a face; com duas cobrem os pés e com duas voam. Esta visão das asas dos serafins que Isaías teve nos ensina três dimensões da adoração dos serafins: Profundidade, Intimidade e Liberdade.

Profundidade

O gesto de cobrir o rosto está ligado ao fato de que “ninguém pode ver a Deus e continuar vivo” (Ex 33,20). Então, ao adorarem a Deus, os serafins, que estão no alto, cobrem a face e olham para baixo.

Quem está embaixo? O homem, feito do mais baixo dos elementos: o pó da terra.

A beleza desta imagem é que, não vendo a Deus face a Face, os seraph contemplam Deus no reflexo dele, impresso no Homem, que é criado a sua imagem e semelhança. Foi assim que Isaías descobriu que, mesmo sendo um homem de “lábios impuros” (Is 6,5), poderia ser tocado pelo fogo que o serafim contempla.

Intimidade

O segundo elemento da nossa reflexão está no fato dos serafins cobrirem os pés. Os pés, no antigo oriente, estão profundamente ligados à dimensão da intimidade. Ora, não é para qualquer pessoa que você mostra seus pés.

Assim, até hoje no oriente, os pés sempre estarão ligados a dimensão da discrição e do sagrado (Ex 3,5).

Um exemplo disto é: quando Jesus, estando à casa de Lázaro em Bethania, é ungido por Maria. Ela derrama nos pés de Jesus o perfume mais caro e unge-os para a sua paixão (Jo 12,3). Logo em seguida, em um gesto de profunda humildade, o Filho de Deus lava os pés de seus discípulos (Jo 13, 1-11).

Foi tão forte este gesto do mestre que Pedro refutou deixar-se lavar os pés, porque ele, enquanto hebreu, sabia que tal gesto era realizado por alguém muito íntimo (Jo 13,6). Mas era exatamente isso que o Senhor queria do seu amado discípulo: intimidade profunda e não somente uma amizade vivida na superficialidade.

Logo, os serafins nos ensinam, portanto, a dimensão da intimidade na adoração. Eles cobrem seus pés para os outros anjos e para os homens, para somente Deus que “vê no escondido” recompense (Mt 6, 1-6).

Deste modo, aprendemos que a verdadeira adoração exige intimidade que, por sua vez, gera em nós o amor gratuito, tributado a Deus, sem esperar dos outros nenhum reconhecimento. A intimidade doa a exclusividade no relacionamento de um para com o outro.

Sobre esta dimensão, Pseudo-Dionísio nos ensina que os abrasadores não se afastam do trono de Deus e da sua presença e, por isso, a intimidade que eles possuem com Deus dá a eles acesso aos segredos mais íntimos do Todo-Poderoso1.

Liberdade

A terceira dimensão da adoração dos serafins é a liberdade. Com as asas que lhes são superiores, eles voam. Neste sentido, São Boaventura nos ensina que os serafins nos ensinam que, para a verdadeira elevação e contemplação de Deus, ocorre passar pelas três fases:

1. Reconhecer a finitude humana de que somos feitos.
2. Entrar em nós mesmos e reconhecer na intimidade a nossa imagem e semelhança com Deus.
3. Buscar as realidades eternas através da nossa razão e fé2.

A verdadeira adoração nos leva para a verdadeira liberdade, porque, uma vez que reconhecemos do que somos feitos e quem somos, nossa essência se volta Àquele pelo qual somos orientados a contemplar e adorar e, assim, nosso ser é abrasado e nosso coração queima de amor.

Dessa forma, a maior liberdade que alguém pode experimentar em sua vida é quando o Fogo devorador de Deus penetra no mais íntimo do nosso ser. Quem se deixa queimar pelo fogo de Amor de Deus se torna como brasas sobre o altar, que queima e purifica todas as impurezas.

Por isso, São Tomás de Aquino afirmou que os serafins, na grande batalha no céu, não se tornaram demônios. Todos os outros anjos, a exceção desses e dos Tronos, caíram3. Por quê? Por causa do Amor que consome esses nossos irmãos.

Termino:

Aprendemos, portanto, com esses grandes seres celestiais, que o verdadeiro relacionamento com Deus está no fato de deixar-nos ser abrasados por suas chamas de Amor, que aquecem a nossa vida.

Não é por acaso que Espírito Santo desceu em forma de fogo sobre a cabeça dos apóstolos em Pentecostes, para nos lembrar de que o Amor de Deus derramado em nossos corações é fogo consumidor (Gl 4,6).

Peçamos aos serafins que estão próximos, diante de Deus, que falem de nós para o nosso criador.

Olhe para o céu, feche seus olhos, e com os olhos da fé, veja os serafins com o rosto coberto, mas que, por baixo de suas asas incandescentes, contemplam Deus em você, reflexo e imagem do Deus vivo. Assim os serafins proclamam:

“Santo, santo, santo é o Senhor Deus, o Todo-Poderoso, aquele que era, que é e que há de vir!”

(Ap 7,8)

Assim, eles nos ensinam que Deus é o Deus do meu passado, presente e futuro. Então, deixe Deus ser tudo em sua vida. Ele deseja entrar na tua história, fazer parte da sua vida e reescrevê-la. Desse modo, Ele, que é eterno, nos dias vindouros dirá: “E VIVEU FELIZ PARA SEMPRE QUEIMANDO DE AMOR POR MIM”.

Referências:

1 Cfr. PSEUDO-DIONISIO, Hierarchia celeste, BIBLIOTHECA PATRISTICA, VII, p. 14.
2 Cfr. SÃO BOAVENTURA, Itinerarium mentis in Deum, I, 2.
3 Cfr. SÃO TOMÁS DE AQUINO, Summa Theologica II, Edições Loyola, São Paulo, 2005, 198, Q. 62, Art. 9.

Originalmente publicado no portal Canção Nova.

Foto de Szabolcs Toth no Pexels

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