O herói tem como característica em sua missão salvar os que estão em perigo. Com sua força sobre-humana, ele é capaz de vencer obstáculos, enfrentar e derrotar monstros, e ser socorro para aqueles que perecem.
Desde os gregos, a ideia de herói foi se formando com a conotação de um ser forte, musculoso, corajoso, que demonstrava não ter medo de nada. Como não pensar em Hércules com seus 12 trabalhos? Aquiles com sua agilidade na batalha de Tróia e Teseu com sua coragem no labirinto do minotauro?
Atualmente, a ideia do herói super poderoso ainda toma conta da nossa imaginação. Sempre esperamos que alguém mais forte do que nós venha em nosso socorro para nos defender do perigo.
O mundo precisa de heróis
Mas, neste último período de Natal, pensei naquele que está acima e possuí todo o poder, e que a sua vida foi e é inspiração para os verdadeiros heróis. Ele carrega em seu nome a máxima missão de todos os heróis, isto é: a SALVAÇÃO.
Ele é o verdadeiro Salvador e no mês passado (dezembro) foi seu aniversário. Todos nós celebramos o nascimento do Salvador do mundo. Mas, ele não veio com o protótipo dos antigos e modernos heróis.
O Yeshua – Salvador, em hebraico – diferente dos outros, salvou o mundo morrendo. Ele chorou quando seu amigo Lázaro morreu. Pediu ajuda porque sentiu a angústia da morte e quis companhia na hora da sua entrega no Getsêmani e no Gólgota.
O Senhor de todos os heróis morreu e foi sepultado. A minha fé nele me diz, segundo a tradição da minha igreja e das escrituras, que no sábado santo ele desceu ao inferno para me buscar. “Não desceu triunfante cheio de glória, como os Evangelhos apócrifos afirmaram, mas como qualquer outro defunto” (Von Hurs Balthasar), não fez barulho, nem fez tremer as portas do inferno.
O que ele fez? Ele foi buscar meu pai Adão. O tirou das cadeiras da morte e abriu as portas do paraíso. Ele segurou as espadas dos querubins do Éden (Gn 3) e suas mãos sangraram quando ele as lançou para longe.
Foi assim, que neste último Natal, aprendi a verdadeira força do herói. Ela reside na inocência de uma criança que chora. De um bebê envolto em faixas que sente a fome e o frio da noite.
O Filho de Maria
O filho de Maria salvou o mundo, mas ele foi tão discreto em fazer isso que o mundo ainda hoje está descobrindo sobre a sua obra que se tornou a única e a maior salvação realizada na história. Eu aprendi, então, que enquanto os exércitos celestes cantavam para os pastores, o Senhor dos heróis chorava. Quando encontrava os seus destinatários, ele se compadecia deles e os ensinava, dizendo que eram felizes aqueles que choram porque seriam consolados (Mt 5,5).
O Menino Deus me ensinou que a heroicidade reside na fraqueza e que o maior poder de um homem é a oração, porque “o que ora usa o poder de DEUS” (São João Crisóstomo).
Ele andava em companhia de homens e mulheres, desgraçados e excluídos. E o maior feito dele foi transformá-los em apóstolos, discípulos e evangelizadores. Estes, antes falidos e frustrados, pobres e miseráveis, venceram, inspiraram e enriqueceram o mundo (cf. Carta a Diogneto).
Aprendi, portanto, que a salvação em Jesus Cristo, nosso Senhor, passa pela água de reuso, isto é: por aquilo que aparentemente é descartável. Mas, que ele transforma aquilo que é destinado para o fogo e para perdição, em vida eterna.
Acima de todos
A obra redentora realizada pelo Filho de Deus superou todos os feitos de qualquer herói do passado e do presente. Se a maioria dos heróis gregos eram seres humanos que, por sua força, alcançaram (APOTEOSE) o inacessível Olimpo (residência dos Deuses Gregos), e se os heróis modernos se apresentam como aqueles que, com superpoderes, são provenientes de outra dimensão (Thanos, de os Vingadores) ou de outro planeta (Super Homem, Mulher Maravilha, etc), o Verdadeiro Salvador do mundo, não só salvou o homem, mas se encarnou, assumindo a nossa humanidade elevando-a a divinização (Theosis), isto é, partícipe da vida Divina.
É no mistério da encarnação (ενσάρκωση: fazer-se carne) que o Deus Cristão acaba com toda lógica do protótipo dos heróis lendários. Em Jesus, o homem sem nada merecer, sem nenhum mérito, é visitado pelo Divino e não só: Ele é assimilado a ele. Então, não é mais o homem que, por seus esforços, alcança os campos Elíseos Gregos, mas é o próprio PARAÍSO, que desce e se torna realidade, na vida mortal do ser humano. Não é portanto pelos nossos trabalhos e méritos, mas por graça e misericórdia da parte do Salvador do mundo, que experimentamos a salvação (Santo Agostinho).
No fim de tudo, o que são os heróis diante do Cristo?
A resposta encontramos em um antigo Padre da Igreja chamado Orígenes que, na sua apologia da fé contra Celso, explica que a diferença está no modo em como Cristo Salva. Se Teseu, Orfeu desceram aos infernos forçadamente e voltaram de lá, Cristo ao contrário, morreu, foi crucificado publicamente, foi sepultado, e experimentou a humilhação e o fracasso da morte. Ele não voltou do Hades, mas abriu as portas deste, para que todos os que perecem, possam fazer da morte uma passagem para a eternidade (cf. Orígenes, contra Celso, 23-56).
Veja, a diferença é sútil, mas profunda: Cristo não volta do inferno da morte como os antigos heróis. Ao contrário, Ele abre as portas do Hades e quebra as correntes da morte, para que todos aqueles que vivem por Ele (isto é graça Divina), “não pereçam. mas tenham a vida eterna” (Jo 3,15).
Os verdadeiros heróis são aqueles que não fogem da sua humanidade.
Desse modo, os verdadeiros heróis são aqueles que não fogem da sua humanidade. Herói de verdade é aquele que possui medos, incertezas, fraquezas e falhas, mas que encontra no verdadeiro Salvador a força e a graça de enfrentar a morte porque sabe que pode se apoiar não em uma força ou em um super poder somente, mas no auxílio pessoal do Filho de DEUS e de seu Espírito.
Portanto, você é um herói quando sai para trabalhar e com o suor do teu rosto traz para casa o pão cotidiano para os teus filhos. Você é um herói quando doa a tua vida a exemplo do Cristo, ou quando luta contra o pecado. Você é um heroi quando entende que não é pelos teus méritos e nem pelas tuas forças,mas pela capacidade de acreditar mesmo quando todos desistiram.
O teu heroísmo está não em ser autossuficiente, mas em depender totalmente dele, porque como diz a Escritura: “Assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus que usa de misericórdia” (Rm 9,16). Um dia eu estava perdido. Na minha angústia gritei e Ele me ouviu e, seguindo meu grito, veio me buscar. Hoje, eu vivo porque Ele vive em mim e um dia eu vou viver nele para sempre!
JESUS, MEU SALVADOR: EU TE AMO!
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